Faz algum tempo li em algum lugar, creio ter sido em uma reportagem da revista Caros Amigos, que o escritor Ariano Suassuna sentia saudades de sua antiga casa. Na verdade, se bem me lembro, a residência tinha se transformado em uma espécie de museu e ele, ao entrar no lugar, sentiu falta do cheiro de sua infância. Foi aí que me dei conta do quanto sinto falta do meu quarto. Na época, não muito longe assim, eu dividia meu quarto com minha irmã mais velha, Márcia. Eram duas camas de solteiro, um guarda-roupa, aquela tradicional mesinha de cabeceira e uma janela maravilhosa pela qual eu admirava a lua cheia, o céu único de Deserto Feliz e todas as maravilhas que nós do interior temos a sorte de termos debruçadas sobre nossas janelas.
Ah, sim, esqueci de dizer que esse quarto ainda era o meu quando criança e, depois, adolescente. Foi ali que aprendi que ser forte é apenas uma questão de tempo e oportunidade. Morria de medo de dormir no quarto sozinha pois minha irmã já estudava na cidade, como costumávamos nos referir a Campos. Então, para espantar meus fantasmas e provar que era corajosa, tive uma idéia de gênio: Colei na parede um monte de figurinhas da Pantera cor-de-rosa que brilhavam no escuro e, para completar, levava para cima da cama meu radinho de pilha. Tá, eu admito, sou da época do rádio de pilha. Mas, o meu era mais moderninho. Conseguia sintonizar até as FMs famosas da época. Bons tempos...
Mas, voltando à realidade, meu quarto continua lá. E assim como o de Ariano Suassuna, sofreu algumas mudanças. No lugar das camas de solteiro, hoje existe uma de casal. A família cresceu, os sobrinhos e filhos chegaram e adaptações tiveram que ser feitas. A mesinha de cabeceira, onde ficavam meus livros de José de Alencar e as sinhazinhas que me ensinaram a gostar de ler também tiveram que sair de lá. Mas, a janela continua no mesmo lugar. E, às vezes, quando consigo uma folga do trabalho, volto para meu quarto. Agora, com uma novidade: Ganhei um companheiro sensível o bastante para admirar a lua comigo: Meu filho, Leonardo. Só falta o radinho de pilha para sintonizar minhas saudades.
3 comentários:
Oi, querida Mariane, lendo seus textos também me bateu muita saudade, mas de um tempo recente.
Acho que o sentimento foi o mesmo para os demais colegas que dividiram o mesmo espaço no Monitor.
"eu admirava a lua cheia, o céu único de Deserto Feliz e todas as maravilhas que nós do interior temos a sorte de termos debruçadas sobre nossas janelas."
É, eu sou um privilegiado em ainda morar na minha roça.
Adoreeeei !
aaaaaa, lembrei de quando a gente passou uma semana lá, pescando todo dia, andando na lama e tal! foi perfeito demais. E amei o texto :)
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